Social by João Nunes: Lançamento do Livro Ernani Zetola- Uma Luz Que Não Se Apaga

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Na agenda…

*** No último dia 26 de maio, no Museu Municipal Atílio Ricco, no centro de São José dos Pinhais, aconteceu o Lançamento do livro de Luciano Chinda Doarte, sobre a vida de Ernani Zetola – “Uma Luz Que Não Se Apaga”, ele, que foi o fundador do Museu, embora não leve o seu nome. A noite foi coroada com a presença de amigos, familiares e autoridades locais do município. A redação do Portal No Sofá agradece o gentil convite para se fazer presente!

Capa do Livro de Luciano Chinda Doarte sobre a vida do colunista Ernani Zetola

Ernani Zetola deu início à sua educação no Colégio São José, onde realizou a primeira série do primário, e no Grupo Escolar Silveira da Motta, no qual completou o curso primário. Como no município não havia instituições que oferecessem o ginasial e o colegial, mudou-se para Curitiba, onde continuou seus estudos no Colégio Novo Ateneu. Ernani completou, também, curso de técnico em contabilidade, na Escola Técnica de Comércio “De Plácido e Silva”, no ano de 1950, mas nunca exerceu essa profissão.

Com 19 anos de idade, Ernani foi aprovado em concurso público e ingressou no Departamento de Correios e Telégrafos. Ao longo de 33 anos, exerceu diversas funções e aposentou-se em 1973.

Marcos Moro Degola, prefeita Nina Singer, Elza Zetola, Luciano Chinda Doarte, o Secretário Municipal de Cultura- Marcelo Setim Dal Negro, e o simpático casal Neide e Luiz Carlos Setim

Neide Setim, Simone Zardo Werner, Zelinda Fialla, Elza Delage Zetola e Maria Angélica Marochi

A história do colunismo social

Dentre os vários tipos de colunas que se firmaram ao redor do mundo está a coluna social, utilizada para retratar o cotidiano das pessoas mais ricas da sociedade, seus gostos, valores e como interagem entre si. Eram raros os momentos em que as camadas sociais de menor poder aquisitivo eram retratadas e quando isso ocorria, via de regra, eram alvo de comparações com a elite local.

O colunismo social surge na década de 1920, quando o tablóide americano The New York Evening Graphic ofereceu a Walter Winchell um emprego que se tornou um trampolim para sua posição como um poderoso colunista. Eram pequenas notas sobre a vida privada dos famosos, acrescentando aqui e ali um ponto de vista debochado e sarcástico, tornando assim suas colunas amadas e respeitadas pelo público norte-americano, nasciam ali as “gossip columns” ou “colunas de fofocas” na tradução literal.

O colunismo no Brasil até a década de 1940 tinha como destaque a política e a economia. Em 1945, o jornalista Manoel Antonio Bernardez Muller, mais conhecido como Maneco, que trabalhou nos periódicos Diário Carioca, Correio da Manhã, Ultima Hora e na revista O Cruzeiro, inspirou-se nas colunas de Winchell para criar a primeira coluna social moderna no Brasil fazendo uso do pseudônimo de Jacinto de Thormes. Com muita personalidade e um estilo inconfundível, Jacinto produzia crônicas nas páginas do Diário Carioca   que misturavam temas do colunismo social com questões da sociedade em geral.

Em 16 de março de 1951 publicou no Diário Carioca pela primeira vez a lista das “Dez mais elegantes”, lista na qual elegeu senhoras e senhoritas como as mulheres mais elegantes de 1950, usando critérios específicos. Acerca destes critérios, Jacinto de Thormes esclarece:

“[…] Todos os meios de informação sobre o ano de 1950, foram usados e até consultei os interessados como técnicos, artistas plásticos, casas de modas, editores de revistas sociais, costureiros e pessoas de bom gosto […]”  (Diário Carioca, 1951, pág 6-6)

Nessa época, os colunistas que se dedicavam ao mundo das festas e ao glamour da alta sociedade, mudaram o foco: detalhes da vida dos ricos e famosos começaram a ser intercalados com o cotidiano de políticos, titulares do Senado e da Câmara dos Deputados, neste contexto surge o nome de Ibrahim Sued. Como repórter fotográfico, o colunista começou a escrever em 1951 pequenas notícias na seção “Vozes da cidade” na “Tribuna da imprensa”, já em 1952 passou a fazer a coluna “Zum-Zum” na revista “A Vanguarda” do Rio de Janeiro e em 1954 iniciou no “O Globo”, onde permaneceu até 1995, ano de seu falecimento. Ganhou grande reconhecimento dentro e fora da profissão, escreveu suas colunas com personalidade e agressividade, abordando diversos assuntos, dentre eles: política, economia, comportamento, celebridades internacionais e cultura no geral. Inventou termos e chavões, lançando personagens e criando moda.

Da mesma forma que Jacinto de Thormes, Ibrahim também elegia as mulheres mais elegantes da alta sociedade. Para ele as “dez mais elegantes” deviam seguir alguns critérios, sendo o principal deles a elegância e simplicidade, e já que a maioria das mulheres vestia-se com grandes costureiros franceses,  acabavam por ficarem fora da lista.

A política tinha grande influência na vida social, assim, as listas das mais elegantes tinham em suas primeiras posições majoritariamente esposas de diplomatas e deputados, seguidas por esposas de banqueiros, advogados e tradicionais herdeiros cariocas.

Em São José dos Pinhais a história do colunismo social teve seu início em 1952 com Ernani Zetola, que estreou no jornal “Correio de São José” a “Coluna da Saudade”, fazendo uso do pseudônimo de “Filho da Terra”. Nesta coluna além de recordar sua infância, citar personalidades de destaque e amigos do seu tempo, também noticiava aniversários, casamentos, festas e outros acontecimentos importantes para a cidade.

“Ao emprestar minha modesta colaboração a este jornal, não pretendo colher louros imerecidos, mas simplesmente prestar uma singela homenagem as pessoas queridas e populares que viveram nesta cidade e, que agora descansam na paz do Senhor […]”. (Zetola Ernani – Correio de São José, 09 de Novembro de 1952 –  Pág 04)

Em 1953 Ernani publica a coluna “High Society no jornal “Correio de São José”, fazendo uso do pseudônimo de “Vagalume”. Em 1954 Ernani volta a publicar a “Coluna da saudade” com o mesmo pseudônimo usado anteriormente: “Filho da Terra”, já em 1957 com a venda do periódico “Correio de São José” Ernani passa a publicar a “Coluna da saudade” nas folhas do recém fundado “Tribuna de São José ”, e neste mesmo jornal Ernani volta a publicar a coluna “High Society” com o pseudônimo “Vagalume” no ano de 1958. Na década de 1960 além da “High Society” Ernani volta a publicar a “Coluna da Saudade”. Na década de 1970, no jornal “Folha de São José” Ernani faz pequenas trovinhas, fazendo uso do pseudônimo de “Principe Niko”, e também assina a coluna “Trilha Social”, fazendo uso inicialmente do pseudônimo “Konde Nador”, posteriormente, em 1977 o pseudônimo “Konde Nador di Lagonegro” e por fim, em 1979 assinando com seu próprio nome. Na década de 1980 nas folhas do jornal “Folha de São José” Ernani pública a “Trilha Social” assinando com seu próprio nome, em 1982 faz um quadro dentro da trilha social: “Rostos de ontem”, além de criar as colunas “Arte e Cultura” e “Vitrina”. Ainda em 1982 no jornal “Tribuna de São José” Ernani pública as colunas “Arte e Cultura”, “Convívio”, assinando com seu próprio nome. Já com o pseudônimo “Allegro Moderato” pública a coluna “Sociais, Culturais e Algo Mais”.

No período de 1983 a 1993 Ernani não produz nenhuma coluna, volta a publicar somente em 1994 com o pseudônimo de “Zeca Feio de Saudade”, inaugurando a coluna “Evocação” nas folhas da “Tribuna de São José”, já em 1995 muda seu pseudônimo para “Zeca Cheio de Saudade” e em 1996 inaugura outra coluna: “Social Life” fazendo uso do pseudônimo “Alotez”, uma clara referência a seu próprio sobrenome, mas escrito de trás para frente. Em 1997, encerra sua carreira como colunista social, assinando a “Sociais, Culturais e Algo Mais” com o pseudônimo de “Konde Nador”.

A lista das “Dez Mais Elegantes” de Ernani Zetola

Inspirado em Jacinto de Thormes, Ernani Zetola trás pela primeira vez para São José dos Pinhais a lista das “Dez Mais Elegantes”, nesse trecho ele explica aos leitores como surgiu a ideia:

Antes de Ibrahim Sued, quem liderava a crônica social no Brasil era Jacinto de Thormes  (seu verdadeiro nome é Manuel Bernardo Muller); moço de excelente família, desde muito cedo Jacinto começou a freqüentar as rodas da café-society. Foi ele o lançador da lista das “Dez mais elegantes do Brasil”, a exemplo do que se faz nas grandes capitais como Paris, Nova York, etc. Em 1951 Jacinto publicou sua lista nas páginas do “Diário Carioca” e da “Manchete, que ainda não havia completado seu primeiro aniversário .[No] ano seguinte o cronista Tormes não quiz mais publicar sua lista na revista dos Blochs, e sim no “O Cruzeiro”, o que se faz também nos anos seguintes. A direção de “Manchete” resolveu, então, consultar vários cronistas sociais e lançar a lista das “Dez Mais”, o que desde ai vem sendo feito anualmente. Aqui em São José dos Pinhais, coube-nos o privilegio de sermos o lançador dessa famosa lista, ainda quando assinávamos a coluna social como pseudônimo de “Vagalume”, colaborando para o semanário “Correio de São José, mais tarde “Tribuna de São José”, procuramos imprimir o máximo do brilho a referida lista, graças a colaboração especial das distintas Senhoras e Senhoritas que a integram. Convido pois, a todos os nossos leitores a apreciarem, na vitrine da “Loja Boneca”, a exposição em cores das fotos das “Dez mais elegantes de 75” desta cidade. (Zetola Ernani- Folha de São José, 25 de dezembro de 1975- pág 02)

Segundo o jornal “Folha de São José” a primeira publicação da lista das “Dez Mais Elegantes“ ocorreu na década de 1950, quando Ernani Zetola assinava suas colunas como “Vagalume” no “Correio de São José”.O primeiro registro encontrado data em 1959, no jornal “Tribuna de São José”, quando Ernani Zetola  fazendo uso do pseudônimo “Vagalume” assinava a coluna “High Society”. Nessa edição Ernani elenca não só “As Dez Mais Elegantes”, mas também “Os Dez Mais Bem Trajados”.

A partir de 1975, usando o pseudônimo de “Konde Nador”, Ernani enumerava ao decorrer do ano as candidatas da lista em sua “Trilha Social”. O Colunista também citava as características para uma mulher ser considerada elegante, são estas algumas das características que serviam como critério para seleção das “Dez mais”:

“Ao apontarmos “as dez mais elegantes” não estaremos considerando apenas o guarda-roupa das mesmas, importantes atributos pessoais também pesarão: cultura, inteligência, educação, personalidade e posição social. Em suma é o que chamamos de “classe”. Uma mulher pode se tratar com muito luxo e ao rigor da moda, mas, se não tiver “classe”, jamais poderá ser considerada uma “elegante”, será apenas uma mulher “chic”. ( Zetola Ernani, Folha de São José, 21 de outubro de 1976)

Além de falar sobre as candidatas, Ernani se comprometia em deixar registrado o andamento da seleção de sua lista:

[…]  A comissão encarregada de selecionar as “dez mulheres mais elegantes de 75” em São José dos Pinhais, está quase dando por concluído o seu difícil trabalho.A seleção está feita por votação e  tão logo a referida comissão nos entregue a famosa lista, iniciaremos os nossos serviços de entrevistar e fotografar as eleitas”. Zetola Ernani- Folha de São José, 06 de Novembro de1975 pág 2”.

Diferente dos primeiros anos de publicação, além de publicar o nome das escolhidas, Ernani passou a publicar suas respectivas fotos e outras informações, tais quais: a  profissão que exerciam, seus hobbies e o nome do marido e filhos (caso possuíssem).

Existia uma comissão de jurados responsável por enumerar as mulheres mais elegantes da cidade e quais estariam na lista final, seu nome era “comissão de ouro”. Ela era composta, de maneira anônima a fim de evitar possíveis inimizades, por mestres da “hautecouture” (Alta-costura), artistas plásticos, professoras de estética, entre outros. Segundo Ernani “gente entendida de boas maneiras”.

Os nomes das vencedoras eram organizados por ordem alfabética, não havendo classificação e, após a publicação ilustrada das “10 mulheres mais elegantes”, as fotos das mesmas eram expostas na loja “A Boneca”, uma loja de artigos femininos localizada na rua XV de Novembro. A lista das mulheres mais elegantes de São José dos Pinhais fez muito sucesso e a cada ano era renovada, causando muito entusiasmo nas senhoras e senhoritas da alta sociedade. A seleção das mais elegantes aconteceu até 1982.

A lista não se restringiu às mulheres: também houve os “Dez mais elegantes”. Eram usados os mesmos critérios para elegê-los: os cavalheiros deviam ter uma boa aparência, charme e saber se portar corretamente, além da inteligência, que era um critério importantíssimo.

Notas de doações ao museu

Segundo Ernani Zetola, a ideia de se fundar o “Museu Histórico de São José dos Pinhais” despertava grande interesse na população, principalmente das famílias tradicionais da cidade. Recebendo inúmeras doações, passou a publicar pequenas notas sobre os itens em forma de agradecimentos aos doadores. Ernani não só publicava o nome dos doadores, mas também uma breve descrição das peças. A primeira publicação ocorreu em 1977, ano em que o museu foi criado.

[…] Nossa leitora Dirce de Paula ofereceu ao futuro “Museu Histórico de São José dos Pinhais”, dois antigos quadros sacros, os quais estão em nosso poder. Entretanto, como não dispomos de espaço para guardá-los, assim como as outras possíveis doações, sugerimos à Prefeitura, providenciar local adequado para os mesmos. Todavia as ofertas deverão ser catalogadas, figurando os nomes dos objetos e dos doadores. Agradecemos à Sra. Dirce de Paula. (Zetola Ernani, 28 de Abril de 1977, Folha de São José)

Ernani publicou as colunas de doações até o ano de 1980, após essa data passa a publicar informações gerais sobre o museu em sua “Trilha Social”, informações como: dias em que o museu estaria recebendo visitas do público e número de visitantes no ano.

Colunas de Memória

Na miríade de nomes que contribuíram para formação da história cultural de São José dos Pinhais o de Ernani Zetola certamente merece destaque. Além de atuar no Grupo Folclórico Italiano de São José dos Pinhais, no Centro Cultural Scharffemberg de Quadros e ser parte fundamental no surgimento do Museu Municipal Atílio Rocco, também se dedicou ao colunismo. Neste texto analisaremos especialmente sua contribuição nas colunas de memória.

Foi no dia nove de novembro de 1952 que publicou pela primeira vez a “Coluna da Saudade”, usando o pseudônimo de “Filho da terra’’ e com o ímpeto de relembrar pessoas queridas da região, redige um texto com cunho de memorialista, algo que carregou consigo por quase todas suas colunas e ao longo de toda sua carreira. O próprio Ernani comenta suas motivações no trecho a seguir:

“Ao emprestar minha modesta colaboração a este jornal, não pretendo colher louros imerecidos, mas, simplesmente prestar uma singela homenagem à pessoas queridas e populares que viveram nesta cidade e que agora descansam na paz do Senhor.” (ZETOLA, 1952, P.5).

Nesse fragmento ele descreve seu conceito de saudade: “…é aquilo que sentimos quando aqueles que nos amamos e estimamos, partem para uma longa ausência, ou partem para sempre colhidos pela morte” (ZETOLA,1953.P.1).

Percebe-se como a Coluna da Saudade era escrita de forma muito afetiva por Ernani, já que por muitas vezes ele se recorda dos personagens descritos, inclusive por memórias de sua infância. No trecho que segue, ele busca recordações de quando garoto a partir da observação do tumulo de uma amiga que morreu prematuramente:

“Aquele simples nome gravado, no mármore seguido de uma frase trasbordante de dor e saudade, transportou-me subitamente aos bons tempos de minha meninice, em pés descaso e pernas curtas, corria a despreocupação pelas velhas ruas da cidade, entrando sem cerimônia pelas casas adentro onde todos eram amigos sinceros” ( ZETOLA . 1953 P.6)

Além de escrever de modo muito sensível sobre diversos temas, por vezes também fazia uso de ironia e humor em suas indagações, isto é algo que nos salta aos olhos quando vemos os pseudônimos que costumava de usar.  Dentre estes nomes fictícios temos: “Alotez”, “Konde Nador”, “Príncipe Niko”, “Zeca Feio da Saudade”, “Zeca Cheio de Saudade”, além de “Filho da Terra” e “Vagalume, e por vezes seu próprio nome “Ernani Zetola”. Em alguns momentos de suas colunas o autor retirava um espaço para explicar sobre o motivo de seus pseudônimos, como nesse trecho:

‘’Para que “alguém” não pense que temos qualquer pretensão à nobreza, esclarecemos que, o pseudônimo Konde Nador (Conde com K) é um trocadilho da palavra “condenador”. Lago negro é uma pequena e antiga cidade da Itália, onde nossa família, pelo lado paterno, tem suas raízes […]”(ZETOLA, 1977, P.2)

Na coluna da saudade ele escreve sobre a vida de vários personagens a partir de suas memórias, de certa forma podemos dizer que ele usa estes personagens como alicerce para suas próprias indagações e reflexões. Em meio aos muitos personagens que foram objeto de Ernani podemos citar: Teresa Quintilhano (Nhá Teresa), Zacarias Alves Pereira (Nhô Zaca), Francisca Cordeiro (Nhá Chiqiuinha), Professor João da Costa Viana, Professor Jorge Nascimento, João Húngaro (Velho Húngaro), dentre outros. Ele descreve momentos ilustres da vida, como seus ofícios, casamentos e aniversários além de refletir sobre a vida e a morte.

Ernani não só relembrava personagens marcantes, mas também, lugares e eventos como nesse trecho que ele recorda dos carnavais da década de vinte e trinta:

“Os maiores e os melhores aconteceram nos salões do “XV de Novembro”, do antigo “Cine Ideal”, da “Casa Magnífica” e mais tarde nos do São José E. Clube. Nos finais dos anos vinte, inicio dos trinta o “corso” esteve no apogeu. “Corso” era o desafio pela cidade realizado nas tardes de carnaval, dele participaram automóveis com o toldo baixado, caminhões, carruagens e até montarias, transportando moças, rapazes e crianças fantasiados. Cantando os sucessos carnavalescos. O lança-perfume usado em profusão embalsamava o ar com aromas vários, serpentinas e confetes atirados sem economia, coloriam e enfeitavam a cidade; grupos mascarados, com fantasias improvisadas, percorriam as ruas, invadindo casas e bares, brincando com todos, numa ingênua alegria.” (ZETOLA, 1977, P.2)

Entre diversos eventos narrados por Ernani Zetola ao longo de suas colunas, temos a abertura do então Museu Municipal de São José dos Pinhais, no dia dezenove de setembro 1977, obra que foi de importância impar para a cidade e para sua pessoa. Ao longo das colunas no Jornal Tribuna de São José, ele relata como foi a sua experiência, desde ter tido a ideia da criação do museu, até quais foram as primeiras doações realizadas. Neste trecho ele descreve a importância da doação de itens:

’Museu Municipal de São José dos Pinhais: “O principal é o todo que faz esquecer a parte. Somente o todo faz a obra de arte”. Unidos, tornaremos concreto aquilo que fora uma ideia distante — o Museu Municipal de São José dos Pinhais. Você aqui nasceu, você que tem raízes profundas nesta cidade, você que de qualquer forma à ela está vinculado, contribua para a formação do acervo do Museu, oferecendo algo que documente o passado da Sanjo.’’  (ZETOLA, 1977, P.2).

Podemos dizer que, com seus trabalhos em periódicos, Ernani esboça a construção de uma memória coletiva local e de uma identidade São-joseense. Acerca disso os autores no livro “São José uma trajetória de uma cidade” discorrem:

“A memória de Ernani Zetola sobre a cidade de São José dos Pinhais, manifesta nesse e em outros fragmentos, não é com certeza a única existente entre os moradores da cidade. Das reuniões sociais, culturais, religiosas e políticas teceu-se uma rede de compromissos e conflitos comuns a todos, cujos principais eventos passarão, por meio desses registros, serem “recordados” contribuindo com a formação de uma determinada identidade coletiva. Esta, por sua vez, estabelece um território próprio, onde diversos sujeitos são transformados em cidadãoes divididos em governantes e governados” (COLNAGHI, MAGALHÃES, BREPOHL. 1992 P.161)

Ainda no Jornal Folha de São José, fazendo uso do pseudônimo “Príncipe Niko”, ele escrevia quadrinhas, que são poemas simples que tem em sua estrutura: uma estrofe, de quatro versos, tendo cada verso sete silabas. Essa estrutura poética era muito comum na idade média, onde se faziam quadrinhas na forma de canção. Nessa coluna Ernani relembrava diversos personagens de São José, além de fazer comentários ácidos e engraçados sobre diversas personalidades da cidade. A primeira quadrinha escrita pelo “Príncipe Niko” está datada do dia 28 fevereiro de 1975:

Vou fazer uma oração

Ao glorioso São Tomé

Prá que cause sensação

A folha de São José

Rapaz que anda na rua

Com cabelos cacheados

Parece mocinha sapeca

Procurando namorado

Saudade dos velhos tempos

Das festas de São João

Da casa de São Paulino

Onde soltei muito balão

Outro dia o Silvio Santos

Que é formado em Direito

Escreveu em seu programa

Com “g” a palavra “jeito”

(QUADRILHINHAS PRINCIPE NIKO P.2 1975)

Na data de nove de outubro de 1977 é escrita a ultima quadrinha com a assinatura de “Príncipe Niko”, após essa data passa a assinar como “Zeca Feio”. Na década de 1980 ele começa a escrever sua coluna “Sociais Culturais e Algo Mais”, no entanto, neste momento temos um Ernani que escreve mais sobre política, tanto local quanto nacional. Assim como a sua antiga “Coluna Trilha Social”, aqui também o memorialismo é deixado de lado.

No dia 19 de novembro de 1994 temos a primeira coluna “EVOCAÇÃO”, nela Ernani Zetola apresenta o personagem Sr. Inácio Grossman, um padeiro da região que entregava pães a domicilio. Nessa coluna ele faz uso do pseudônimo  “Zeca cheio de saudade””Zeca feio de saudade”.  Nesse momento,  Ernani resgata a essência da “Coluna da Saudade”, voltando a relembrar não só personagens históricos de São José dos Pinhais,  mas também  lugares ilustres e celebridades do cinema. Foi somente em 1997 que Ernani Zetola se afasta da imprensa, após  anos de colaboração.